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Equipe de Comunicação Solo Network
| Sep 16, 2025
O universo da criação digital ganhou uma nova camada de possibilidades com o anúncio mais recente da Adobe: a empresa decidiu ampliar o alcance de suas ferramentas ao integrar modelos de inteligência artificial generativa desenvolvidos por terceiros diretamente no Photoshop e no Firefly Boards.
A novidade é um marco no desenvolvimento de softwares criativos, pois rompe a lógica de ecossistemas fechados e cria um espaço em que diferentes motores de geração de imagem e vídeo podem conviver em harmonia. Para designers, editores de vídeo, agências e empresas, essa mudança significa acesso a mais diversidade estética, workflows mais rápidos e maior liberdade criativa, ao mesmo tempo em que traz desafios de governança e consistência. É um movimento que coloca em evidência como a IA não apenas acelera processos, mas começa a redesenhar a própria dinâmica do trabalho criativo.
O Firefly Boards, ambiente colaborativo que funciona como um espaço de ideação e prototipagem visual, será um dos grandes beneficiados com essa abertura. A plataforma, que já vinha sendo usada para experimentação com imagens e composições, passa a contar com modelos de vídeo desenvolvidos por empresas como Runway AI e Moonvalley AI.
Isso significa que equipes poderão testar narrativas audiovisuais de forma instantânea, gerando clipes e sequências a partir de descrições textuais, sem precisar abandonar o espaço de colaboração. Além disso, novos recursos como presets visuais, edição generativa de texto em imagens e a função de descrever automaticamente uma cena para gerar prompts ampliam o repertório disponível para criativos que buscam agilidade e diversidade nos experimentos.
Photoshop também ganha novas funções
O Photoshop, uma das ferramentas mais utilizadas no mundo em edição de imagens, também se renova ao permitir a integração de modelos externos como o Gemini 2.5 Flash Image, do Google, e o FLUX.1 Kontext, desenvolvido pela Black Forest Labs.
A ideia é simples e poderosa: oferecer aos usuários a possibilidade de escolher diferentes motores para executar funções de preenchimento generativo e edição baseada em prompts, aproveitando as particularidades de cada modelo. Alguns terão melhor desempenho em iluminação realista, outros em fidelidade anatômica ou consistência em estilos artísticos. Essa pluralidade dentro de um mesmo software reduz a necessidade de exportar projetos para outras ferramentas, mantendo o fluxo de trabalho contínuo e centralizado. Mais do que conveniência, é uma forma de entregar aos criativos maior controle sobre o resultado final.
Um aspecto importante dessa expansão é a transparência. Sempre que um modelo externo for usado, o Photoshop criará camadas não destrutivas que registram tanto o prompt quanto o motor de IA escolhido. Isso garante rastreabilidade, facilita revisões e dá ao criador a segurança de poder comparar saídas ou reverter alterações sem perder o original.
Para empresas que lidam com demandas complexas e múltiplos stakeholders, essa rastreabilidade é fundamental, pois reduz disputas sobre autoria e mantém a integridade do processo criativo.
No momento, a Adobe está testando essas integrações em versão beta, permitindo que assinantes experimentem os novos modelos sem desconto de créditos de IA, recurso que normalmente limita a quantidade de gerações possíveis. Entretanto, a empresa já estabeleceu regras de uso: quem tem plano padrão poderá realizar até 100 gerações vitalícias por modelo, enquanto assinantes premium terão acesso a até 500 gerações por dia. A sinalização é clara: trata-se do início de uma jornada de integração que deve se expandir nos próximos meses, com a entrada de novos modelos e funcionalidades ainda mais sofisticadas.
Múltiplas opções criativas
A possibilidade de contar com diferentes modelos dentro de um mesmo ambiente amplia a paleta criativa, reduz gargalos técnicos e acelera a etapa de prototipagem. Trocar uma frase em um cartaz mantendo estilo, fonte e sombra; criar múltiplas variações de um produto para uma campanha publicitária; ou gerar diferentes cortes de um vídeo com estilos narrativos distintos passa a ser questão de minutos.
O tempo antes consumido em ajustes detalhados pode ser redirecionado para a ideação conceitual, etapa onde a contribuição humana continua insubstituível. Essa mudança de foco libera criativos para se dedicarem mais à estratégia, à narrativa e ao impacto emocional das peças, deixando que a IA cuide de refinamentos que, embora importantes, são trabalhosos e repetitivos.
É claro que a abundância de opções também traz desafios. Cada modelo tem suas próprias características e limitações, o que pode gerar inconsistências visuais caso diferentes motores sejam usados em um mesmo projeto sem curadoria adequada. Existe também o risco de paralisia diante da escolha: qual modelo é o mais adequado para determinado contexto?
Essa curva de aprendizado exigirá que profissionais desenvolvam competências em engenharia de prompt e mapeiem quais motores funcionam melhor para cada tipo de demanda. Em paralelo, cresce a responsabilidade de manter coerência estética e identidade de marca, evitando que a facilidade de gerar múltiplas versões leve a um resultado fragmentado ou genérico.
Outro ponto que precisa ser observado é a questão da propriedade intelectual. A introdução de modelos de terceiros amplia a complexidade sobre direitos autorais e licenciamento. Embora a Adobe tenha reforçado seu compromisso com o uso de datasets licenciados, nem sempre é possível garantir total isenção de riscos quando diferentes motores, desenvolvidos por empresas diversas, entram em jogo.
Esse cenário exige que agências e departamentos de marketing adotem políticas claras de governança, estabelecendo guidelines sobre quando e como a IA pode ser usada, quais usos são aceitáveis e quais tipos de revisão e personalização devem ser aplicados para garantir originalidade e evitar conflitos legais.
Do ponto de vista estratégico, a abertura da Adobe cria um precedente interessante. Ao permitir que modelos externos operem dentro de seus aplicativos, a empresa reconhece que não é possível monopolizar a inovação em inteligência artificial. Esse movimento se aproxima de um modelo de ecossistema, em que diferentes players contribuem para enriquecer a experiência do usuário.
Para empresas criativas e agências, isso se traduz em flexibilidade: em vez de escolher entre uma ferramenta ou outra, é possível integrar múltiplas abordagens dentro de uma mesma plataforma. No Brasil, onde agências e equipes de marketing enfrentam forte pressão por produtividade e prazos cada vez mais curtos, essa flexibilidade pode se transformar em diferencial competitivo imediato.
É também um momento para repensar precificação e modelos de entrega. Com workflows acelerados pela IA, clientes tendem a questionar valores baseados apenas em horas de trabalho. As agências precisarão reforçar que o valor está na concepção criativa, na estratégia e na curadoria humana — não apenas na execução.
Esse argumento ganha força quando se considera que a abundância de opções não substitui o olhar crítico e a sensibilidade de um criativo. É justamente essa capacidade de direcionar e filtrar o que a IA entrega que diferencia um resultado medíocre de uma peça memorável.
No horizonte, podemos esperar uma expansão ainda maior dessa lógica de integração. É plausível imaginar que o ecossistema da Adobe se torne uma espécie de hub de modelos generativos, em que o usuário escolhe a ferramenta mais adequada para cada etapa, seja desenvolvida pela própria Adobe ou por parceiros externos. Isso abre espaço para colaborações com startups de IA, modelos especializados por nicho de mercado e até serviços customizados para setores específicos, como moda, arquitetura ou publicidade.
Em paralelo, é provável que as questões de compliance, viés cultural e segurança de dados se tornem cada vez mais centrais, exigindo atenção tanto dos desenvolvedores quanto dos usuários corporativos.
A expansão do Photoshop e do Firefly Boards com modelos generativos de terceiros não é apenas uma atualização tecnológica. É um sinal de que a criação digital está entrando em uma nova era, em que a diversidade de motores de IA dentro de um mesmo ecossistema será a norma, e não a exceção.
Para criativos e empresas, experimentar, aprender e definir boas práticas agora será fundamental para manter relevância em um mercado que se transforma em velocidade inédita. No fim das contas, a tecnologia oferece as ferramentas, mas a verdadeira transformação virá da forma como os humanos conseguem usá-las para contar histórias, transmitir mensagens e gerar impacto. O futuro da criatividade digital está sendo escrito, e cabe a cada profissional decidir se será apenas espectador ou protagonista dessa nova narrativa.